O Seade Trabalho analisa a evolução do mercado de trabalho no Estado de São Paulo, em suas regiões e municípios. A cada mês atualizamos a movimentação dos empregos formais, por meio de dados das empresas constantes no Novo Caged, do Ministério do Trabalho e Emprego. Trimestralmente, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C), produzida pelo IBGE a partir de informações domiciliares, permite estimar a desocupação, a subutilização da força de trabalho, os rendimentos do trabalho e outras formas de ocupação da população de São Paulo.

novembro.2020

Estado de São Paulo

Ocupação entre os negros diminui 18% no 1º semestre de 2020

Os efeitos negativos da pandemia de Covid-19 sobre a atividade econômica influenciam diretamente o mercado de trabalho, afetando de forma desigual os grupos populacionais, notadamente a população negra no Estado de São Paulo.

Em 2019, a população negra1 correspondia a 56,3% da população brasileira e a 40,4% da paulista. Na população economicamente ativa (ocupados + desocupados) do Estado de São Paulo, havia 25,7 milhões de pessoas com 14 anos ou mais de idade, das quais 10,3 milhões eram negras.

O número de ocupados não mostrou grandes oscilações em 2019, mas, já no 1o trimestre de 2020, houve declínio de 2,7% para negros, superior à redução de 1,9% para a população não negra. No 2o trimestre, momento de maior força da pandemia de Covid-19 no Estado, a retração do nível ocupacional foi intensa, sendo novamente maior para negros (-15,9%, ou -1,4 milhão de ocupados) do que para não negros (-7,1%, ou -949 mil ocupados).

Em relação ao 4o trimestre de 2019, estima-se que os contingentes no 2o trimestre de 2020, período em que se observa o declínio no número de ocupados, tenham diminuído em 1,7 milhão (18,2%) de ocupados negros e 1,2 milhão (8,8%) de não negros no mercado de trabalho paulista.

Gráfico 1 – Estimativas de ocupados, segundo raça/cor

Estado de São Paulo, 1o trim.2019-2o trim.2020, em milhões

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua; Fundação Seade.

O comportamento do nível de ocupação por raça/cor e sexo mostra que, no 2o semestre de 2020, homens e mulheres negros foram os mais afetados, em termos relativos e absolutos. Entre os ocupados, houve redução de 762 mil homens negros (-15,4%) e de 646 mil mulheres negras (-16,6%). Já os homens e mulheres não negras tiveram reduções menores: respectivamente, -6,3% (ou -453 mil) e -8,0% (ou -496 mil).

A situação de contribuição à previdência, que caracteriza a inserção formal ou informal, mostra que entre os ocupados contribuintes (os formais) houve decréscimo menor do que para os não contribuintes (os informais) no mercado de trabalho paulista. Entre o 1o e o 2o trimestres de 2020, os negros que contribuíam à previdência tiveram redução de 12,4% e os que não contribuíam, de 23,5%, bem superiores às verificadas entre os não negros: 5,7% e 11,2%, respectivamente.

Gráfico 2 – Estimativas de ocupados, segundo situação de contribuição à previdência social e raça/cor

Estado de São Paulo, 1o trim.2019-2o trim.2020, em milhões

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua; Fundação Seade.

O maior impacto da redução de ocupações para a população negra pode ser indicado também pelo aumento dos que não estavam trabalhando, mas buscaram trabalho durante o período de isolamento social decorrente da pandemia de Covid-19. A taxa de desocupação, que apresentava uma trajetória de suave declínio durante 2019, registrou forte crescimento entre o 1o e o 2o trimestres de 2020, em especial entre os negros, cuja taxa passou de 14,3% para 17,1%, enquanto a dos não negros ampliou-se de 10,8% para 11,3%.

Em decorrência da pandemia de Covid-19, diversas atividades não essenciais deixaram de funcionar, limitando as oportunidades de trabalho. Com isso, muitas pessoas que precisavam de um novo trabalho não tinham onde ir buscar. A taxa composta de subutilização da força de trabalho2 é um indicador que considera todos aqueles que precisariam de uma ocupação (ou mais horas de trabalho), contabilizando, além das pessoas que procuraram trabalho, aquelas que deixaram de procurar, mesmo que temporariamente.

Para os negros, a taxa de subutilização da força de trabalho aumentou de 23,1% para 29,9%, entre o 1o e o 2o trimestres de 2020, um aumento maior do que a dos não negros, que passou de 18,3% para 22,6%. Essa taxa para as mulheres negras alcançou 36,0%, o maior aumento nesse período.

Gráfico 3 – Taxas de desocupação, segundo raça/cor

Estado de São Paulo, 1o trim.2019-2o trim.2020, em %

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua; Fundação Seade.

Gráfico 4 – Taxas compostas de subutilização da força de trabalho, segundo raça/cor

Estado de São Paulo, 1o trim.2019-2o trim.2020, em %

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua; Fundação Seade.
Nota: A taxa composta de subutilização da força de trabalho considera as pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas e a força de trabalho potencial.

O 2o trimestre de 2020 foi marcado pela redução do rendimento médio efetivamente recebido pelos ocupados, sendo que a retração foi semelhante para negros (-15,0%) e não negros (-15,4%). Com isso, o valor médio recebido pelos negros (R$ 1.921) manteve expressiva diferença (55%) quando comparado àquele recebido pelos não negros (R$ 3.468).

Se considerados os rendimentos segundo a contribuição à previdência social, os não contribuintes (informais) tiveram maiores retrações do que os contribuintes (formais). A redução do rendimento médio dos não contribuintes negros (-21,5%) foi mais intensa do que a dos não negros (-16,2%), ampliando a diferença.

Gráfico 5 – Rendimento médio real efetivo, segundo situação de contribuição à previdência social e raça/cor

Estado de São Paulo, 1o trim.2019-2o trim.2020, em reais (1)

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua; Fundação Seade.
(1) Valores em reais do 2o trimestre de 2020. Inflator utilizado: IPCA. Incluem-se rendimentos de todos os trabalhos realizados, bem como valores iguais a zero.
Notas
1. Nesse estudo, foram considerados negros os indivíduos classificados como pretos e pardos; não negros são os brancos e amarelos.
2. A taxa composta de subutilização da força de trabalho incorpora os desocupados, os ocupados que trabalham menos de 40 horas na semana e gostariam de trabalhar mais horas e os inativos que não procuraram trabalho no mês de referência, mas têm disponibilidade e gostariam de obter um trabalho.
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