O Seade Trabalho analisa a evolução do mercado de trabalho no Estado de São Paulo, em suas regiões e municípios. A cada mês atualizamos a movimentação dos empregos formais, por meio de dados das empresas constantes no Novo Caged, do Ministério do Trabalho e Emprego. Trimestralmente, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C), produzida pelo IBGE a partir de informações domiciliares, permite estimar a desocupação, a subutilização da força de trabalho, os rendimentos do trabalho e outras formas de ocupação da população de São Paulo.

setembro.2023

Estado de São Paulo

Renda Domiciliar e do Trabalho na Pandemia – Interior e RMSP

As crises econômica e sanitária decorrentes da pandemia de Covid-19 ampliaram o desemprego e provocaram retração dos rendimentos. Entre 2019 e 2022, a renda média domiciliar no interior do Estado e na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) diminuiu para vários segmentos analisados, principalmente entre os de rendas mais altas, resultando em ligeiro decréscimo da diferença entre as maiores e as menores rendas.

Na RMSP, onde há forte presença de serviços especializados, comércio e parte da indústria automobilística e de tecnologia do Estado, a renda é maior do que no interior. No entanto, a região concentra também a maior desigualdade entre os mais pobres e os mais ricos.

No interior, em 2022, os 10% de domicílios mais pobres recebiam, em média, R$ 911, valor 2,6% menor do que em 2019. A renda nos 10% de domicílios mais ricos (R$ 17.849) apresentou retração maior (-21,2%), passando a superar em 20 vezes a dos mais pobres. Essa relação era de 24 vezes em 2019.

Já na RMSP, a diferença entre as rendas dos mais pobres e dos mais ricos passou de 40 para 37 vezes, entre 2019 e 2022. A pequena aproximação entre os valores deveu-se ao decréscimo de 4,6% para os mais pobres e 11,9% para os mais ricos, cujas rendas médias domiciliares, em 2022, chegaram a R$ 828 e R$ 30.807, respectivamente.

Renda média mensal domiciliar (1), segundo percentis de renda

Interior e Região Metropolitana de São Paulo, 2019-2022, em reais

(1) Consideradas todas as fontes de renda efetivamente recebidas. Valores em reais, a preços médios do último ano, deflacionados pelo IPCA.

 
A distribuição da renda média dos domicílios pelo número de pessoas que neles residem (renda média domiciliar per capita) mostra retração em relação ao período anterior à pandemia, embora com uma ligeira queda na desigualdade entre os grupos de renda.

Em média, cada pessoa nos domicílios do interior recebia, mensalmente, R$ 1.845 em 2022, valor 9,3% menor do que o de 2019. Nesse período, a renda média per capita dos 10% mais pobres aumentou de R$ 245 para R$ 273 e a dos 10% mais ricos diminuiu de R$ 7.680 para R$ 6.284, sendo que a diferença de renda entre os dois segmentos passou de 31 para 23 vezes, entre 2019 e 2022.

Na RMSP a renda média domiciliar per capita em 2022 (R$ 2.511) diminuiu 5,2% em comparação a 2019. Entre os 10% mais pobres, a renda per capita (R$ 238) diminuiu 2,1%, enquanto para os 10% mais ricos (R$ 11.001) a redução foi de 10,6%. Esses movimentos fizeram com que a diferença entre os mais ricos e os mais pobres, que era 51 vezes maior em 2019, passasse para 46 vezes em 2022.

Renda média mensal domiciliar per capita (1), segundo percentis de renda

Interior e Região Metropolitana de São Paulo, 2019-2022, em reais

(1) Consideradas todas as fontes de renda efetivamente recebidas. Valores em reais, a preços médios do último ano, deflacionados pelo IPCA.

Renda dos chefes de domicílio apresenta maior retração

Os chefes de domicílio costumam ter a maior renda e ser os que mais contribuem no orçamento familiar. Entre 2019 e 2022, a renda média dos chefes no interior sofreu a maior retração (-16,6%) entre os membros do domicílio, passando para R$ 3.197. Já a renda média dos cônjuges diminuiu 3,2%, tornando-se equivalente a R$ 2.953. As reduções diferenciadas permitiram uma aproximação desses ganhos, uma vez que a renda recebida por cônjuges, que em 2019 correspondia a 80% à dos chefes, passou a 92% no último ano.

Na RMSP, a renda média dos chefes de domicílio diminuiu 12,3% no período em análise, passando para R$ 4.415, enquanto a dos cônjuges retraiu-se em 4,5%, alcançando o valor de R$ 4.190. Com isso, a renda dos cônjuges, que equivalia a 87% à dos chefes em 2019, passou para 95% em 2022.

Renda média e mediana mensal (1), por posição no domicílio

Interior e Região Metropolitana de São Paulo, 2019-2022, em reais

(1) Consideradas todas as fontes de renda efetivamente recebidas. Valores em reais, a preços médios do último ano, deflacionados pelo IPCA.

No interior, a participação da renda dos chefes na renda total do domicílio, que era de 57,5% em 2019, diminuiu para 54,8% em 2022. Movimento inverso ocorreu entre os cônjuges, cuja contribuição na renda domiciliar ampliou-se de 25,6%, para 27,3%, bem como a dos outros parentes ou conviventes, que aumentou de 6,7% para 7,6%. A participação dos filhos – aqui considerados todos os filhos com renda – pouco mudou, ao passar de 10,2% para 10,3%.

Na RMSP, também houve queda na participação da renda dos chefes de domicílio entre 2019 e 2022 (de 57,2% para 55,8%), enquanto a dos cônjuges manteve-se em 28,0%, a dos filhos ampliou-se de 9,2% para 9,6% e a dos outros parentes ou conviventes cresceu de 5,6% para 6,5%.

Participação na renda média mensal domiciliar (1), segundo posição no domicílio

Interior e Região Metropolitana de São Paulo, 2019-2022, em %

(1) Consideradas todas as fontes de renda efetivamente recebidas. Valores em reais, a preços médios do último ano, deflacionados pelo IPCA.

Massa da renda domiciliar fica menor

A média mensal da massa da renda domiciliar no interior foi estimada em R$ 45,7 bilhões em 2022, com redução de 6,9% (ou menos R$ 3,4 bilhões) em relação a 2019. Esse comportamento deveu-se à retração da renda média domiciliar (-11,2%), uma vez que o número de residentes com renda nos domicílios aumentou 4,8%.

Já a média mensal da massa da renda domiciliar na RMSP, estimada em R$ 55,7 bilhões em 2022, apresentou redução de 3,2% (ou menos R$ 1,8 bilhão) na comparação com 2019, movimento que refletiu a retração do rendimento médio domiciliar (-6,4%), atenuada pelo aumento do número de residentes com renda nos domicílios (3,5%).

Índices das pessoas com rendimentos, do rendimento médio domiciliar mensal (1) e da massa de rendimento mensal domiciliar

Interior e Região Metropolitana de São Paulo, 2019-2022

(1) Consideradas todas as fontes de renda efetivamente recebidas. Incluem os ocupados que não tiveram remuneração no mês de referência. Valores em reais, a preços médios do último ano, deflacionados pelo IPCA.

Entre as fontes de renda, aumenta apenas o valor do Bolsa Família

O orçamento familiar continua composto, majoritariamente, pelos rendimentos do trabalho, que contribuíam, no interior, com 76,5% da renda média domiciliar total em 2022, parcela praticamente igual à registrada em 2012 (76,6%) e menor do que a de 2019 (77,4%). As aposentadorias e pensões cresceram de 17,0% para 17,7%, entre 2019 e 2022. Os programas sociais também tiveram aumento, embora ainda com participações que, somadas, mal ultrapassam um dígito: de 0,8% passaram para 1,3%.

Os rendimentos do trabalho na RMSP participavam com 80,7% da renda média domiciliar total, em 2022, percentuais que correspondiam a 79,3% em 2012 e 79,7% em 2019. As aposentadorias e pensões cresceram de 12,8% para 13,3% e os programas sociais, de 0,6% para 1,1%, nesse período.

Participação na renda média mensal domiciliar (1), segundo fontes de renda

Interior e Região Metropolitana de São Paulo, 2012-2022, em %

Fontes de renda Interior   RMSP
2012 2019 2022 2012 2019 2022
Rendimentos de todos os trabalhos 76,6 77,4 76,5 79,3 79,7 80,7
Aposentadoria e pensão 16,7 17,0 17,7 14,9 12,8 13,3
Aluguel e arrendamento 3,0 2,2 2,1 2,5 3,4 2,2
Pensão alimentícia, doação e mesada de não morador 0,9 1,1 0,9 1,0 1,1 0,7
Programas sociais (2) 0,6 0,8 1,3 0,4 0,6 1,1
Outras fontes (3) 2,2 1,6 1,5 2,0 2,5 2,0
(1) Consideradas todas as fontes de renda efetivamente recebidas. Valores em reais, a preços médios do último ano, deflacionados pelo IPCA.
(2) Bolsa Família/Auxílio Brasil, BCP-LOAS e outros programas sociais.
(3) Rendimentos de cadernetas de poupança, juros de aplicação financeira, dividendos, seguro-desemprego, etc.

 
Os valores de todas as fontes de renda no interior tiveram redução entre 2019 e 2022, exceto o do programa Bolsa Família/Auxílio Brasil, que passou de R$ 208 para R$ 465, em média. Entre as demais fontes, destacam-se os decréscimos dos outros programas sociais (-11,0%), dos rendimentos de todos os trabalhos (-10,8%), da aposentadoria e pensão (-10,2%) e de outras fontes – rendimentos de poupança, juros de aplicação financeira, dividendos, seguro-desemprego, etc. (-9,9%).

Na RMSP, o Bolsa Família/Auxílio Brasil aumentou de R$ 190 para R$ 479, em média. Destacam-se os decréscimos de aluguéis (-34,3%), outros programas sociais (-12,0%), outras fontes (-11,3%) e aposentadoria e pensão (-6,6%).

Renda média mensal da população residente (1), por fonte de renda

Interior e Região Metropolitana de São Paulo, 2019-2022, em reais

(1) Consideradas todas as fontes de renda efetivamente recebidas. Valores em reais, a preços médios do último ano, deflacionados pelo IPCA.
(2) Rendimentos de cadernetas de poupança, juros de aplicação financeira, dividendos, seguro-desemprego, etc.

Rendimento do trabalho diminui na média, mas aumenta entre os mais pobres

No interior, o rendimento médio de todos os trabalhos, principal fonte de renda das famílias, diminuiu 10,8% em relação a 2019, passando a equivaler a R$ 2.855. Retração mais intensa ocorreu entre os 10% de ocupados mais ricos (-21,2%), cujo rendimento passou para R$ 9.828. Entre os 10% mais pobres houve aumento de 10,1%, com o rendimento equivalente a R$ 461, em 2022.

Devido a esses movimentos distintos, os mais ricos passaram a receber rendimentos 21 vezes maiores do que os dos mais pobres, relação que era de 30 vezes em 2019 e já foi de 19 vezes em 2014.

Na RMSP, o rendimento médio de todos os trabalhos diminuiu 4,7% em relação a 2019, passando para R$ 4.062. Entre os 10% mais ricos, houve retração de 9,5% do rendimento médio, que passou a valer R$ 17.778, enquanto entre os 10% mais pobres ocorreu aumento de 16,3%, com o rendimento equivalente a R$ 526, em 2022.

Assim, os mais ricos passaram a ter rendimento 34 vezes maior do que o dos mais pobres, relação que era de 43 vezes em 2019 e já foi de 21 vezes em 2013.

Rendimento médio mensal de todos os trabalhos dos ocupados (1), segundo percentis de renda

Interior e Região Metropolitana de São Paulo, 2019-2022, em reais

(1) Rendimentos efetivamente recebidos. Valores em reais, a preços médios do último ano, deflacionados pelo IPCA.

 
A massa média mensal de rendimentos dos ocupados no interior diminuiu 8,0% (ou menos R$ 3,0 bilhões) em relação a 2019 e foi estimada em R$ 35,0 bilhões em 2022. O desempenho negativo deveu-se à retração do rendimento médio (-10,8%), uma vez que o número de ocupados aumentou 3,1%.

Na RMSP, a massa de rendimentos dos ocupados diminuiu 1,9% (ou menos R$ 0,9 bilhão), entre 2019 e 2022, passando a ser estimada em R$ 45,0 bilhões. Esse desempenho refletiu o decréscimo do rendimento médio mensal (-4,7%), parcialmente compensado pelo aumento do número de ocupados (2,9%).

Índices do número de ocupados, do rendimento médio mensal (1) e da massa de rendimento mensal

Interior e Região Metropolitana de São Paulo, 2019-2022

(1) Rendimentos efetivamente recebidos. Incluem os ocupados que não tiveram remuneração no mês de referência. Valores em reais, a preços médios do último ano, deflacionados pelo IPCA.
Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua; Fundação Seade.
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